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O risco do bordado é um romance do escritor brasileiro Autran Dourado, publicado em 1970. A história se passa na cidade fictícia de Duas Pontes, interior de Minas Gerais, em meados do século XX. A obra foi bem acolhida pelo público e pela crítica desde a sua publicação e ganhou o Prêmio Pen-Club do Brasil naquele ano.
O romance é estruturado em sete blocos relativamente independentes, que a princípio dão a impressão de contos isolados em que tomam parte os mesmos personagens. Todos os episódios referem-se à adolescência do escritor João da Fonseca Nogueira, que volta ao cenário de sua infância, encontra antigos moradores da cidade, parentes e companheiros de infância, e vai montando uma espécie de quebra-cabeças, resgatando fragmentos de memória para compor a narrativa. Trata-se, assim, de um romance de formação, que trata da descoberta da sexualidade, da amizade, da traição e da literatura. A personalidade e a história da vida de outros personagens próximos, como o Vovô Tomé, também vão sendo lentamente revelados.
A narrativa não é linear: tem o ritmo descontínuo e labiríntico da memória. A fragmentação e desordem temporal das recordações requerem frequentemente acréscimos por parte da imaginação e de interpretações de João e de outros personagens. O risco do bordado que é a história da vida de um homem não pode ser totalmente conhecido por ele mesmo.
O autor utiliza o recurso da falsa terceira pessoa: a narrativa está na terceira pessoa, mas o leitor facilmente identifica o narrador a João; em alguns trechos, a narrativa chega a passar para a primeira pessoa durante um curto intervalo. Em um dos blocos (Assunto de Família), a falsa pessoa não é mais João e sim seu avô Tomé. No último episódio, também se emprega a narrativa em blocos: o narrador praticamente desaparece quando pessoas diferentes fornecem seu depoimento sobre alguma circunstância da vida de um cangaceiro, o que dá origem não apenas a uma visão fragmentada, mas também incoerente, desse personagem. Em toda a obra Dourado usa o discurso indireto livre, em que as falas das personagens se misturam com a voz do narrador, sem demarcação específica.
A obra resiste à classificação. Por um lado, faltam-lhe características distintivas do romance, como, por exemplo, a existência de um clímax na narrativa. Por outro lado, não se pode falar de apenas um grupo de histórias, pois é inegável que o todo formado vai além da mera justaposição das partes.
Estão presentes nesse romance outras características notáveis do escritor:
Autran Dourado analisa em outro livro seu, Uma poética de romance, o processo de construção dessa obra, revelando uma estrutura complexa que requereu a elaboração prévia de desenhos e plantas-baixas por parte do escritor. A respeito disso, declarou:
O personagem João da Fonseca Ribeiro aparece em outros livros do autor: Um artista aprendiz e A serviço del-rei, que focam aspectos posteriores de sua vida. Além disso, o vovô Tomé volta a aparecer em O senhor das horas.